domingo, 24 de maio de 2009

Violino


Quando você toca o violino, eu sou a música: libera-me no ar.

dentro do universo: o universo da flor

O mundo se apresenta aos teus olhos,
os objetos te olham
e esperam.
Os teus dedos de amor tocam,
os objetos permanecem livres
e esperam.
As tuas palavras explicariam
realidades que existem no escuro,
a noite espera.
Mas a tua existência,
homem ausente,
ajusta-se ao universo
silencioso da flor
e nada espera.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

...

" Um único objetivo surgia diante de Sidarta; o objetivo de tornar-se vazio, vazio de sede, vazio de desejos, vazio de sonhos, vazio de alegria e de pesar. Exterminar-se distanciando-se de si mesmo, cessar de ser um eu, encontrar sossego, após ter evacuado o coração; abrir-se ao milagre, com o pensamento desindividualizado - eis o que era o seu propósito."

"Nada neste mundo preocupou-me tanto quanto esse eu,esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais, de ser Sidarta! E de coisa alguma sei menos do que sei quanto a mim, Sidarta!"

"Sidarta percebeu claramente, com maior nitidez do que nunca, que toda a vida é indestrutível e cada instante, eterno."

Trechos do romance Sidarta, de Hermann Hesse

domingo, 10 de maio de 2009

retalhos

No tempo em que os raios de sol tocavam levemente a pele e pareciam iluminar todo o mundo, eu pensava que os dias vividos eram meus. O tempo constituía-me e gastá-lo era fazer-me maior e forte. Desse modo pueril, eu tocava o azul das manhãs e das tardes alimentando-me dos instantes capturados da alegria excessiva que eu sentia ao rodar a ciranda.
Hoje, a memória daqueles instantes é um enfraquecido raio emitido pela memória do tempo. E o azul real de outrora, neste lírico presente, é apenas uma metáfora.
Antes do mergulho profundo, descobri que o tempo constitui-se de mim e que a sucessão dos dias preenche-me de tudo o que faz ser o que sou, no entanto, e paradoxalmente, desvanece o ser que eu sou.
Os dias vividos não são meus.
Não sou eu quem constituo-me do tempo, contudo o tempo constitui-se de mim. Assim, na memória do tempo há toda a minha existência. Ao passo que na minha memória apenas há alguns raios que iluminam passagens alegres e tristes. E esta é a minha maior pobreza: a de não poder reviver os dias que foram meus e não poder lembrá-los integralmente.
A memória é um caixote que guarda pequenos fragmentos da riqueza dos dias que se vão.
Há um tempo para a memória. Há uma memória do tempo.
Há apenas retalhos que permanecem ao passar o vento.

sábado, 9 de maio de 2009