domingo, 30 de agosto de 2009

HOLE

Acontece às vezes de a incompreensão aponderar-se do conjunto limitado de palavras que constitui a nossa percepção de mundo. Com as palavras perdidas no universo do não-entendimento, altera-se o modo habitual de apreender a realidade, a qual, de familiar, passa a ser insólita e perigosa; isso, evidentemente, no instante exato em que os significados dissipam-se em silêncio caótico.
Sentimos, ainda sem linguagem, o nosso ser tornar-se lembrança para nós mesmos. Morrem-se os signos, enterramos um modo de perceber. Mas não permanecemos no estado desconhecido por muito tempo, não sei se por medo ou por impossibilidade, logo após o choque causado pelo transtorno da ordem, lá vamos nós ressignificar as coisas, reconfigurar dores, recortar verdades transcendentais e, sobretudo, assegurar para que as novas palavras sejam constituintes de um enredo seguro e menos sofrível ...

Houve um tempo em que os meus desejos estavam ocultos em palavras, cujos significados desconhecia. Houve um tempo em que o silêncio da incompreensão clamava por uma voz de entendimento. Enfim ...
Houve um tempo em que eu não sabia sobre as coisas do meu mundo,então, todas as coisas do mundo, com seus signos dados, foram a minha linguagem.

A música sempre foi, para mim, uma importante linguagem de apoio. Quando eu não sabia o que dizer, era a melodia, era o som, era a letra, era o arranjo de diferentes artistas que diziam por mim. Para exemplificar: Hole, na adolescência. Durante muito tempo, as minhas inquietações desejosas entraram em sintonia com os sons inquietantes dessa banda grunge.