domingo, 10 de maio de 2009

retalhos

No tempo em que os raios de sol tocavam levemente a pele e pareciam iluminar todo o mundo, eu pensava que os dias vividos eram meus. O tempo constituía-me e gastá-lo era fazer-me maior e forte. Desse modo pueril, eu tocava o azul das manhãs e das tardes alimentando-me dos instantes capturados da alegria excessiva que eu sentia ao rodar a ciranda.
Hoje, a memória daqueles instantes é um enfraquecido raio emitido pela memória do tempo. E o azul real de outrora, neste lírico presente, é apenas uma metáfora.
Antes do mergulho profundo, descobri que o tempo constitui-se de mim e que a sucessão dos dias preenche-me de tudo o que faz ser o que sou, no entanto, e paradoxalmente, desvanece o ser que eu sou.
Os dias vividos não são meus.
Não sou eu quem constituo-me do tempo, contudo o tempo constitui-se de mim. Assim, na memória do tempo há toda a minha existência. Ao passo que na minha memória apenas há alguns raios que iluminam passagens alegres e tristes. E esta é a minha maior pobreza: a de não poder reviver os dias que foram meus e não poder lembrá-los integralmente.
A memória é um caixote que guarda pequenos fragmentos da riqueza dos dias que se vão.
Há um tempo para a memória. Há uma memória do tempo.
Há apenas retalhos que permanecem ao passar o vento.